Leia a seguir um poema de
Fernando Pessoa (1888-1935), um dos maiores poetas portugueses.
Na ribeira deste rio
Na ribeira deste rioou na ribeira daquelepassam meus dias a fio.Nada me impede, me impele,me dá calor ou dá frio.
Vou vendo o que o rio faz
quando o rio não faz nada.
Vejo os rastros que ele traz,
numa sequência arrastada,
do que ficou para trás.
Vou vendo e vou meditando
não bem no rio que passa
mas só no que estou pensando,
porque o bem dele é que faça
eu não ver que vai passando.
Vou na ribeira do rio
que está aqui ou ali,
e do seu curso me fio,
porque, se o vi ou não vi,
ele passa e eu confio.
FERNANDO PESSOA. In: Eucanaã Ferraz (Org.). A lua no cinema e outros poemas.
São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 82.
São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 82.
1. O texto em estudo foi escrito em versos. Trata-se,
portanto, de um poema. Os versos constituem
cada linha da composição poética. Eles podem ou não apresentar a mesma
extensão. Cada conjunto de versos constitui uma estrofe, que é separada
da seguinte por um espaço em branco.
a. Quantos
versos e quantas estrofes tem o poema?
b. Os
versos têm a mesma extensão?
c. Quando
as estrofes de um poema têm o mesmo número de versos são chamadas regulares.
Do contrário, são chamadas irregulares. No poema lido, como se classificam
as estrofes quanto ao número de versos?
2. O poeta é o autor do texto. A voz que “fala” no poema é
o eu lírico.
a. Que ideias o eu lírico
desenvolve nos versos do poema?
b. Como
o eu lírico parece se sentir às margens desse rio? Esclareça sua resposta com
base no poema.
3. O eu lírico inicia a 3a estrofe
relatando o que faz na ribeira do rio.
a. Tanto
na 2a estrofe como na 3a, ele diz que
está “vendo” o rio, mas, ao mesmo tempo, medita e pensa e
afirma “não ver que [o rio] vai passando”. Que sentido apresenta o
verbo ver, nesse caso?
b. Na
3a estrofe, o eu lírico afirma que olha o rio passando,
mas não pensa nisso. De acordo com o texto, no que ele estaria meditando?
c. Observe
o emprego da palavra bem na 3a estrofe, com
dois sentidos diferentes. O que ela significa nos dois casos?
d. Explique
o que o eu lírico quis dizer no 4o e 5o versos
da 3a estrofe.
e. De acordo com o texto, o
rio é personificado, pois apresenta ações próprias de um ser humano e é tratado
como tal. Em que versos se observa essa personificação?
RESPOSTAS
1.
a.
Há 20 versos e 4 estrofes.
b.
Sim, os versos apresentam a mesma extensão, pois
têm o mesmo número de sílabas métricas.
c.
São estrofes regulares, pois todas são formadas por
cinco versos.
2.
a.
O eu lírico fala de um rio que passa, enquanto ele
permanece na ribeira, pensando, sem se preocupar em observá-lo passar, pois
sabe que o rio se vai com a passagem do tempo.
b.
Assim como o rio, ele parece estar tranquilo, pois
medita enquanto o rio passa: “Nada me impede, me impele, / me dá calor ou dá
frio”; “Vou vendo e vou meditando”.
3.
a.
O eu lírico apenas está presente ali na ribeira, sentindo a
passagem do rio, sem vê-lo, pois está imerso em suas lembranças, mas sabe que o
rio continua passando.
b.
Resposta pessoal. Sugestão: No passado, pois o eu
lírico parece que procura sempre a tranquilidade da ribeira para deixar fluir
suas lembranças.
c.
No 2o verso
(“não bem no rio que passa”), a palavra bem significa
“propriamente” ou “verdadeiramente”. No 4o verso
(“porque o bem dele é que faça”), bem corresponde a “o que é bom
ou conveniente” nele.
d.
Segundo ele, é preferível que o rio passe
livremente, sem que o próprio eu lírico perceba sua passagem.
e.
Na 2a estrofe: “o que o
rio faz / quando o rio não faz nada”; “os rastros que ele traz”.
Na 3a estrofe: “porque o bem dele é que faça /
eu não ver que vai passando”. Na 4a estrofe: “ele
passa e eu confio”.